segunda-feira, 6 de junho de 2011

Meta sã, mente sã: Meta e integridade psíquica

Você já se pegou observando as possibilidades de diagnóstico - os nomes que os profissionais da área da saúde psíquica dão - para a nossa ansiedade e irritabilidade ocidental, pós-moderna e contemporânea? Podemos ter um déficit de atenção, sermos bipolares, excessivamente frios (tendências à psicopatia) ou afetuosos (tendências à hiperdependência, imaturidade etc). São rotulações que manifestam uma questão social mais grave: a dificuldade de nos centrarmos.

Muito do que presenciamos hoje em relação às angústias dos seres humanos está diretamente ligado às dificuldades em estabelecermos metas para nossas ações. Numa sociedade mergulhada em milhões de estímulos apontando diferentes direções não é incomum - pelo contrário é até certo ponto muito natural e "sinal dos tempos" - encontrarmos cada vez mais indivíduos tensos, inseguros, estressados, irritadiços, que serão rotulados como bipolares, portadores dos mais diversos transtornos psicológicos.

Independente do rótulo da moda - que varia e continuará variando através do tempo - tendo a observar com seriedade o quadro de sofrimento psíquico imposto de fora para dentro ao sujeito imerso nesse universo cultural de multiplas possibilidades e como isso se espelha no seu mosaico íntimo de representações e pertencimentos. Essa pandemia de estímulos é uma realidade contemporânea e para se proteger do sofrimento psíquico que ela pode acarretar, é necessário que estabeleçamos, pessoalmente, um foco para a nossa jornada, para o nosso caminhar, algo em direção à qual nossas escolhas serão tomadas, um caminho, uma harmonia íntima, é preciso que estabeleçamos metas.

O objetivo direciona o comportamento
A fixação de objetivos constitui um dos campos de estudo mais explorados e mais solidamente estabelecidos em psicologia. Dois autores consagrados dessa área, Edwin A. Locke e Gary P. Latham desenvolveram uma teoria da fixação de objetivos segundo a qual o comportamento é intencional e a vontade de agir em um sentido específico deriva, em primeiro lugar, da existência de um objetivo a perseguir.

Foco: objetivo que regula a performance
Os objetivos são importantes reguladores do comportamento, pois incitam à ação e dirigem a energia para atividades bem definidas. Quando estamos orientados para a conquista de nossos objetivos concentramos automaticamente nossos esforços nos comportamentos que nos permitem atingi-los, deixando outras atividades (estranhas à realização de nosso objetivo primário, ou "meta")  em segundo plano. Através de uma meta bem estabelecida podemos discernir a relevância das possibilidades e é isso o que sustenta a nossa saúde psíquica, o que nos evita de cairmos em qualquer um dos possíveis "rótulos" no início desse texto. 

Foco e mudança de comportamento
Através desses estudos Locke e Latham chegaram à compreensão de que é através de intervenção orientada sobre as metas dos indivíduos que se pode efetivamente operar mudanças significativas nos seus comportamentos. Ou seja: para mudarmos nossos comportamentos, os atos com que escrevemos nossa história através do tempo, é necessário que mudemos nosso foco, nossa orientação primária. Para termos uma "escrita coesa" (apenas para manter a metáfora anterior) de nossa biografia é necessário que bem estabeleçamos nossa finalidade.

Meta clara, precisa e desafiadora!
Segundo a teoria da fixação de objetivos, quanto mais claros forem estes últimos, quanto mais precisos e difíceis de serem atingidos (sendo sempre possíveis, claro), melhor seria a performance que seríamos capazes de atingir.

A arte do bom desafio
Costumo dizer a meus sobrinhos que quando alguém lhes diz que eles não são capazes de fazer qualquer coisa a mensagem que eles devem ouvir é "estou morrendo de medo de que você consiga fazer isso". Gosto de ver o sorriso de liberdade e o brilho nos olhos deles quando eles percebem o jogo por trás das palavras. É uma alavanca fenomenal!

O que quero dizer com isso é que captamos melhor o que se espera de nós e conseguimos direcionar mais facilmente nossos esforços quando os bjetivos que são fixados são claros e precisos, mas que principalmente os objetivos nos parecem mais estimulantes à medida em que seus níveis de dificuldade vão se tornando mais altos, sem que sejam, é claro, impossíveis. É um jogo delicado e tão complexo quanto excitante.

A conquista do objetivo deve ser um desafio: um objetivo muito fácil de ser atingido será percebido como desinteressante, enquanto um objetivo impossível terá como efeito desencorajar o indivíduo, é no meio termo que ocorre o desafio e a motivação.

Pesquisas de campo e resultados
As conclusões principais do estudo de Locke e Latham foram:

1. Pessoas que perseguem um objetivo claro, preciso e difícil apresentam um melhor desempenho do que as que não tem um objetivo explícito a atingir.
2. A performance aumenta em uma relação proporcional ao nível de dificuldade do objetivo até que o indivíduo tenha atingido o limite de suas competências, ou tenha abandonado o objetivo.

3. Objetivos precisos e difíceis geram melhores resultados que objetivos difíceis porém pouco nítidos (por exemplo "faça o melhor que puder!").

4. Para que os objetivos sejam eficazes, eles devem provocar o comprometimento das pessoas para com eles.

O comprometimento, este distinto evasivo
Locke e Latham compreenderam também que, para aumentar esse comprometimento, é interessante que todos os envolvidos no processo de obtenção daquele objetivo tenham ao menos algum grau de participação  no momento de fixação dessas metas, alguma forma de recompensa pelos esforços realizados e, principalmente, oferecer apoio ao longo da jornada em direção àquele objetivo.

Criando objetivos de qualidade
Objetivos de qualidade, segundo os dois psicólogos, são objetivos que passam pelos crivos anteriores: claros, precisos e suficientemente difíceis (desafiadores). A criação desses objetivos estimularia os envolvidos a despender mais esforços para sua consecussão, os incentivaria a dirigir sua energia para esses objetivos e os levaria a perseverar em seus esforços apesar dos obstáculos.

Sua(s) meta(s) atual(is) é(são) suficientemente clara(s), precisa(s) e desafiadora(s)?

Texto: Renato Kress
Diretor do Instituto ATENA

Criador e treinador dos cursos
A Jornada do Herói
A Arte da Guerra Oriental
Estratégia em Ação
Liderança Corporativa e PNL

5 comentários:

  1. Renato, ótimo texto: claro, preciso, conciso.
    Escrito da forma que considero ideal: acessível tanto a neófitos quanto a "experts". Um especialista entende e respeita, pois mostra domínio no conteúdo. Quem está começando a aprender sobre metas, entende com clareza e se engaja, já que o próprio conteúdo é motivacional. E a melhor parte é a dos olhos dos sobrinhos. Cheguei a ver as faisquinhas daqui...rs

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    1. A melhor parte são sempre os pequenos... Obrigado pelo carinho nas palavras, Bianca. Devo voltar a publicar ainda essa semana.

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  2. Excelente texto. Eu tenho que começar a aprender sobre "foco". Minha mente é inquieta e, realmente tenho dificuldades em concentração. Ler você tem sido um grande aprendizado.

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  3. Obrigado pelo carinho Cláudia. Foco é um exercício contínuo, e, como qualquer exercício, quanto mais praticamos, melhor ele fica. Por isso criei um instituto de treinamento, para poder praticar e auxiliar as pessoas a praticarem, sempre! Só assim chegamos à maestria, em qualquer área das nossas vidas.

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  4. Engraçado... eram meus questionamentos nos últimos dias. Grata pela ajuda.

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