"Eu não posso sempre controlar o que se passa lá fora, mas posso sempre controlar o que acontece aqui dentro" - Wayne Dyer
Lembro-me de quando era adolescente e perguntei a uma ex-namorada o que ela estava pensando. A resposta foi interessantíssima: "Meu pensamento é a coisa mais íntima que eu tenho. Você não vai ter acesso a ele e se tiver será muito pouco." É comum acreditarmos que nossas mentes são refúgios inalcançáveis onde estamos seguros com nossos pensamentos, segredos, ideias e projetos. Normalmente agimos como se nossos pensamento fosse algo completamente único, singular, formado apenas numa espécie de "caixa preta" neuronal da nossa mente. Mas será que efetivamente é assim?
Energia psíquica
O psicólogo suíço Carl Gustav Jung, em sua obra "A energia psíquica" constatou que os nossos "sistemas psíquicos" contém quantidades diferentes de energia psíquica. Que era natural que a "carga" de "energia psíquica" (também conhecida como "libido") dentro de um sistema (mente) era diferente da carga em outro sistema (outro indivíduo, outra mente). Mas o mais importante é que a natureza a energia, em qualquer sistema - seja ele mental, elétrico, hidráulico - é dispersar-se e transformar-se.
Difusão de energia, ampliação e equilíbrio
Mas é inegável que uma pessoa influencia outra, que uma boa ideia incentiva e, de uma certa forma, contamina uma ou várias mentes, angaria seguidores e promove mudanças na "carga" energética dentro dos sistemas mentais de vários indivíduos. Dessa forma os sistemas mentais deveriam poder ser intercambiáveis, ainda que mantivessem certas características básicas e próprias de cada sistema.
Polarizações e leituras dos mapas da realidade
Todo sistema energético é formado por dois pólos em constante troca. Podemos observar isso em uma bateria. Temos um pólo positivo e um pólo negativo. Esses pólos são necessários porque balizam a circulação da energia. É necessário que existam, sim, em número maior do que dois (caso contrário a energia não se moveria, o que equivaleria à inércia e à morte psíquica). Quando temos dois pólos temos uma grande polarização de energia fluindo para dois pontos. Temos uma dicotomia. É o que temos em geral em tempos de guerra, uma grande polarização energética em dois pontos gerando identificação, por um lado, e repulsa, por outro. Amamos e nos identificamos com os "Aliados" e seus ideais de liberdade, igualdade e democracia (a essa altura a fraternidade foi para o espaço) e odiamos o "Eixo" e seus ideais de pureza, eficácia intelectual e instrumentalização da ciência para obtenção de poder.
As leituras que fazemos do mundo nesses momentos são, também, influenciadas pela quantidade de pólos energéticos pelos quais deixamos fluir cotidianamente essa energia. Se temos dois pólos tendemos a endeusar um deles em detrimento do outro que será devidamente "demonizado". A bipolaridade serve a um rebaixamento do nível mental dentro da cultura ocidental uma vez que, desde o Masdeísmo tendemos a criar bipartições conflituosas (dicotomias insolúveis onde o "completamente bom" não dialoga com o "completamente mau") ao invés de complexos de opostos que operam diversas conjunções harmônicas ao longo do tempo. Essas difusões geram uma fragmentação do nosso contato com a realidade, um corte com a lógica naturalmente amoral e indiferente do mundo, uma esquizofrenia. Quando digo lógica amoral e indiferente estou dizendo que por mais que nós, seres humanos, façamos um árduo e poderoso trabalho constante e praticamente imemorial de dotar a realidade ao nosso redor de algum sentido, ela, a realidade, continua operando independente de nossas concepções e ideias. Posso me imaginar voando por anos e isso não vai fazer com que eu efetivamente voe, posso imaginar um foguete com propulsão de antimatéria que, por ação de uma anti-gravidade chegaria aos mais longínquos planetas, mas isso não vai fazer com que o foguete apareça no meu quintal, muito menos em Marte.
Sistema semi-abertos
Mas voltando ao tema dos sistemas mentais por onde a energia psíquica flui. Considerando que tratam-se de sistemas semi-abertos, que estão sujeitos a influências externas, como o homem, em sua ânsia de poder e controle sobre os demais homens, tem levado adiante essas concepções, e o mais importante, como isso afeta nossas vidas diárias?
O jogo mais perigoso
O que hoje se compreende como guerra psicológica foi na Alemanha Nazista, na ideologia nazista eles tinham algo chamado "Weltanschauungskrieg" que significa literalmente "guerra de visão de mundo" ou o que hoje em dia poderíamos chamar de "guerra ideológica". A ideia que eles tinham como substrato para esse conceito era a de impor a visão de mundo dos nazistas aos países que estavam ocupando. Algo muito semelhante ao que o Império Romano fez quando unificou todo o seu território sob o domínio do cristianismo, com o imperador Constantino, no Concílio de Nicéia.
O desenvolvimento do jogo, nascimento da Guerra Psicológica
Os estadunidenses pegaram essa ideia e criaram sua própria "versão americana" e chamaram isso de "Psychological Warfare", ou seja "guerra psicológica":
"Guerra Psicológica: É o uso de propaganda ou outros meios psicológicos de influenciar ou confundir o pensamento e minar a moral do inimigo ou oponente." - Dicionário Websters
"O uso planejado de propaganda ou outras ações psicológicas com o objetivo primário de influenciar as opiniões, emoções, atitudes e comportamentos de grupos hostis, de forma a alcançar os objetivos da nação" - Definição de Psywar (guerra psicológica) pelo Departamento de Defesa Norte Americano
O projeto Clip de Papel
Hoje em dia quando uma nação está muito avançada em relação às demais em um determinado campo da ciência, como a computação, a medicina, a psicologia etc, o que normalmente se faz é criar projetos de bolsas de estudos e migração de profissionais e estudantes para os países que pretendem se apoderar desse conhecimento ou dessas técnicas. Nesses países os profissionais são muitíssimo bem remunerados e bem tratados. É o que chamamos de "evasão de cérebros". E foi exatamente isso que os Estados Unidos fizeram com os cientistas nazistas capturados logo após a segunda guerra mundial, na operação "Paper Clip" ou "clip de papel".
"O projeto Clip de Papel foi uma sansão do governos dos Estados Unidos, uma operação da CIA, para importação de cientistas nazistas e fascistas para os Estados Unidos. Eles declaravam - 'Se nós nao trouxermos essas pessoas para os Estados Unidos e conter todos eles aqui, então nossos inimigos, os soviéticos, iriam" - Mark Phillips, agente de inteligência da CIA
Em 1946 o presidente Truman aprovou o projeto "clipe de papel", trazendo os melhores cientistas de Hitler para os EUA. A ideia oficial e televisionada era a de trazer 700 cientistas que trabalhassem com a área de propulsão, dando início à corrida do homem à lua. Mas foi significativa a percepção de que desses 700 cientistas somente 100 trabalhavam efetivamente com física, mecânica e propulsões. Os outros 600 eram estudiosos da mente humana. Enquanto os cientistas de propulsão foram liderar o projeto espacial norte-americano, os cientistas da mente foram alocados em hospitais psiquiátricos e quartéis generais para continuar as pesquisas que estavam desenvolvendo na Alemanha nazista.
O projeto MK-Ultra
Hitler, Goebbels e seus comparsas consideravam a guerra psicológica a melhor resposta para a dominação global e parece que os cientistas de Estado norte-americanos também pensavam de uma forma similar, pois começaram a desenvolver suas próprias aplicações para o controle mental. O projeto norte americano passou a se chamar MK-Ultra e foi basicamente um programa (de uma série de programas que vieram através da CIA) para experimentar tipos diferentes de controle (e influência) mental usando drogas, choques elétricos, choques de insulina e outras técnicas. Os primeiros testes em humanos foram aplicados a soldados norte-americanos que tomavam doses de LSD e PCP, sem o seu consentimento.
No final dos anos 50, a CIA começou a fundar projetos secretos com lavagem cerebral: "Lavagem cerebral (também conhecido como Reforma de pensamento ou Reeducação) é qualquer esforço constituído visando premir certas atitudes e crenças de uma pessoa - crenças consideradas indesejáveis ou em conflito com as crenças e conhecimentos das outras pessoas. Motivos para a lavagem cerebral podem incluir o objetivo de afetar o pensamento e comportamento do indivíduo que o sistema de valores padrão considerada indesejável." - Wikipedia
Experimentos de privação
Quando colocamos uma pessoa em uma situação em que é impossível se alimentar, não permitindo que ela durma, ou sobrecarregando ela com sons, se você usar tratamento de choque de forma massiva ou der a ela altas doses de drogas como PCP, mescalina, anfetaminas, LSD, se você a coloca em longos períodos de escuridão, onde ela não pode prever o que irá acontecer a seguir e onde ela estará constantemente com medo, sob essas condições qualquer pessoa vai lesando suas defesas mentais. Se pensarmos em filtros perceptivos que desenvolvemos ao longo de nossas vidas e que são responsáveis pelo desenvolvimento e maturação de nossa consciência estar constantemente sob o efeito dessas substâncias ou situações vai criando poros cada vez maiores nas telas do "tecido" que filtra nossas experiências e impede que a nossa energia psíquica se expanda e se perca.
Privação da paz
Quando somos privados, diariamente, pela Grande Mídia da possibilidade de termos um minuto de paz, tranquilidade e sossego, quando cada segundo da nossa atenção deve ser usado para nos deixar tensos, inseguros, incertos e amedrontados - seja com medo da "sensação de insegurança", da "bala perdida", das tragédias do cotidiano dos outros repetidas à exaustão em nossas televisões, revistas e programas, seja com receio de não termos suficiente produto X ou Y para nos sentirmos suficientemente inseridos numa sociedade excludente - estamos sofrendo um rebaixamento do nivel mental e, também, uma grande perda de energia psíquica. A energia que deveríamos ter para efetivamente desenvolver respostas realmente alternativas a essa forma de manipulação mental.
A que serve esse medo? (raízes teleológicas do medo difuso)
Quando percebemos que boa parte, senão quase todo, o conteúdo dos jornais e programas televisivos de hoje em dia são baseados na difusão eterna e constante do sentimento de medo, percebemos que, de alguma forma, o desenvolvimento das pesquisas nazistas que migraram para os Estados Unidos foram muitíssimo bem sucedidas.
Uma sociedade é formada por indivíduos imersos num mesmo padrão cultural, mesmas questões sociais, idioma e crenças. Se a maior parte dos indivíduos dessa sociedade acredita que é incapaz de fazer algo para efetivamente modificar suas condições de vida e relações, isso provavelmente é verdade. Se a maior parte dos indivíduos acredita que é capaz de realizar mudanças, isso também é verdade. Isso se chama "profecia auto-realizadora".
Mas imagine uma sociedade em que os indivíduos são socializados diariamente no medo. No medo de não pertencer, de não ser bom o suficiente, de não ser amado, respeitado, considerado, de não ter seus direitos representados, de ser humilhado, massacrado e espancado pela polícia que deveria garantir seus direitos, de não ser considerado digno de atenção, afeto ou reconhecimento porque não tem determinado produto, conhecimento (jurídico, por exemplo), ou porque não tem um determinado comportamento (investir no Mercado de ações, por exemplo). Esse medo, essa sensação difusa de ausência de segurança e identidade é o melhor campo possível para a venda constante de produtos, costumes, ideias que se apresentem como soluções definitivas. Mas imagine que esses mesmos produtos, costumes e ideias sejam vítimas de uma propaganda massiva de ridicularização e disseminação de um novo medo que será criado na propaganda do novo produto, do novo costume, da nova ideia.
Motor, movimento, viabilidade
Esse é o motor de nossa sociedade contemporânea: medo. Ele foi eleito o mais simples, barato e eficaz método de influenciar decisões, movimentar o consumo e minimizar o pensamento autônomo, esse pensamento limítrofe que nos diz que é possível desligar a TV, consumir mais por necessidade que por diversão, investir nas relações humanas e na relação não monetarizada e não infantilizada consigo mesmo. Esse pensamento estranho (porque não visitado regularmente) que nos diz que um passeio com amigos ou um momento a sós consigo mesmo é mais salutar para a nossa integridade psíquica que uma relação infantilizada em que compramos brinquedinhos eletrônicos ou brincos e vestidos para calar uma espécie de "criança interior" que requer nossa atenção, cuidado e carinho. Em primeiro lugar atenção, cuidado e carinho não são apenas para crianças e carências sempre existirão, mas devem ser identificadas e supridas diretamente, não indiretamente. Se eu preciso de um tempo sozinho não vou substituir isso por um novo jogo de internet ou videogame, ou pela leitura de um livro ou um papo com um colega de trabalho, caso contrário a carência primária jamais será suprida e sim reprimida.
Nossa mente, nossa alma e nossas emoções, muitas vezes, são como um oceano. A repressão excessiva pode gerar um tsunami.
Pense um pouco agora:
Quais carências naturais você pode estar projetando em consumo?
Quais pedidos de ajuda internos você pode estar reprimindo?
A que(m) serve o teu consumo, à necessidade ou à diversão?
(Toda diversão deve necessariamente advir do consumo?)
E se fosse diferente, como seria?
Refazendo a frase com que começamos esse artigo eu a colocaria assim: Eu não posso sempre controlar o que se passa lá fora, mas posso sempre estar atento ao controle do que acontece aqui dentro.
Renato Kress
Diretor do Instituto ATENA
Criador dos treinamentos:
A Jornada do Herói
A Arte da Guerra Oriental
Estratégia em Ação
Liderança Corporativa e PNL
Criador dos projetos:
Mito e Mente
Arquetelos
Café com Conto
Lembro-me de quando era adolescente e perguntei a uma ex-namorada o que ela estava pensando. A resposta foi interessantíssima: "Meu pensamento é a coisa mais íntima que eu tenho. Você não vai ter acesso a ele e se tiver será muito pouco." É comum acreditarmos que nossas mentes são refúgios inalcançáveis onde estamos seguros com nossos pensamentos, segredos, ideias e projetos. Normalmente agimos como se nossos pensamento fosse algo completamente único, singular, formado apenas numa espécie de "caixa preta" neuronal da nossa mente. Mas será que efetivamente é assim?
Energia psíquica
O psicólogo suíço Carl Gustav Jung, em sua obra "A energia psíquica" constatou que os nossos "sistemas psíquicos" contém quantidades diferentes de energia psíquica. Que era natural que a "carga" de "energia psíquica" (também conhecida como "libido") dentro de um sistema (mente) era diferente da carga em outro sistema (outro indivíduo, outra mente). Mas o mais importante é que a natureza a energia, em qualquer sistema - seja ele mental, elétrico, hidráulico - é dispersar-se e transformar-se.
Difusão de energia, ampliação e equilíbrio
Mas é inegável que uma pessoa influencia outra, que uma boa ideia incentiva e, de uma certa forma, contamina uma ou várias mentes, angaria seguidores e promove mudanças na "carga" energética dentro dos sistemas mentais de vários indivíduos. Dessa forma os sistemas mentais deveriam poder ser intercambiáveis, ainda que mantivessem certas características básicas e próprias de cada sistema.
Polarizações e leituras dos mapas da realidade
Todo sistema energético é formado por dois pólos em constante troca. Podemos observar isso em uma bateria. Temos um pólo positivo e um pólo negativo. Esses pólos são necessários porque balizam a circulação da energia. É necessário que existam, sim, em número maior do que dois (caso contrário a energia não se moveria, o que equivaleria à inércia e à morte psíquica). Quando temos dois pólos temos uma grande polarização de energia fluindo para dois pontos. Temos uma dicotomia. É o que temos em geral em tempos de guerra, uma grande polarização energética em dois pontos gerando identificação, por um lado, e repulsa, por outro. Amamos e nos identificamos com os "Aliados" e seus ideais de liberdade, igualdade e democracia (a essa altura a fraternidade foi para o espaço) e odiamos o "Eixo" e seus ideais de pureza, eficácia intelectual e instrumentalização da ciência para obtenção de poder.
"Persona" e "sombra" também podem ser aplicados às nossas concepções políticas e culturais |
As leituras que fazemos do mundo nesses momentos são, também, influenciadas pela quantidade de pólos energéticos pelos quais deixamos fluir cotidianamente essa energia. Se temos dois pólos tendemos a endeusar um deles em detrimento do outro que será devidamente "demonizado". A bipolaridade serve a um rebaixamento do nível mental dentro da cultura ocidental uma vez que, desde o Masdeísmo tendemos a criar bipartições conflituosas (dicotomias insolúveis onde o "completamente bom" não dialoga com o "completamente mau") ao invés de complexos de opostos que operam diversas conjunções harmônicas ao longo do tempo. Essas difusões geram uma fragmentação do nosso contato com a realidade, um corte com a lógica naturalmente amoral e indiferente do mundo, uma esquizofrenia. Quando digo lógica amoral e indiferente estou dizendo que por mais que nós, seres humanos, façamos um árduo e poderoso trabalho constante e praticamente imemorial de dotar a realidade ao nosso redor de algum sentido, ela, a realidade, continua operando independente de nossas concepções e ideias. Posso me imaginar voando por anos e isso não vai fazer com que eu efetivamente voe, posso imaginar um foguete com propulsão de antimatéria que, por ação de uma anti-gravidade chegaria aos mais longínquos planetas, mas isso não vai fazer com que o foguete apareça no meu quintal, muito menos em Marte.
Sistema semi-abertos
Demonstração do sistema de representação que a Programação Neurolingüística (pnl) faz do mundo |
O jogo mais perigoso
O que hoje se compreende como guerra psicológica foi na Alemanha Nazista, na ideologia nazista eles tinham algo chamado "Weltanschauungskrieg" que significa literalmente "guerra de visão de mundo" ou o que hoje em dia poderíamos chamar de "guerra ideológica". A ideia que eles tinham como substrato para esse conceito era a de impor a visão de mundo dos nazistas aos países que estavam ocupando. Algo muito semelhante ao que o Império Romano fez quando unificou todo o seu território sob o domínio do cristianismo, com o imperador Constantino, no Concílio de Nicéia.
O desenvolvimento do jogo, nascimento da Guerra Psicológica
Os estadunidenses pegaram essa ideia e criaram sua própria "versão americana" e chamaram isso de "Psychological Warfare", ou seja "guerra psicológica":
"Guerra Psicológica: É o uso de propaganda ou outros meios psicológicos de influenciar ou confundir o pensamento e minar a moral do inimigo ou oponente." - Dicionário Websters
"O uso planejado de propaganda ou outras ações psicológicas com o objetivo primário de influenciar as opiniões, emoções, atitudes e comportamentos de grupos hostis, de forma a alcançar os objetivos da nação" - Definição de Psywar (guerra psicológica) pelo Departamento de Defesa Norte Americano
O projeto Clip de Papel
Hoje em dia quando uma nação está muito avançada em relação às demais em um determinado campo da ciência, como a computação, a medicina, a psicologia etc, o que normalmente se faz é criar projetos de bolsas de estudos e migração de profissionais e estudantes para os países que pretendem se apoderar desse conhecimento ou dessas técnicas. Nesses países os profissionais são muitíssimo bem remunerados e bem tratados. É o que chamamos de "evasão de cérebros". E foi exatamente isso que os Estados Unidos fizeram com os cientistas nazistas capturados logo após a segunda guerra mundial, na operação "Paper Clip" ou "clip de papel".
"O projeto Clip de Papel foi uma sansão do governos dos Estados Unidos, uma operação da CIA, para importação de cientistas nazistas e fascistas para os Estados Unidos. Eles declaravam - 'Se nós nao trouxermos essas pessoas para os Estados Unidos e conter todos eles aqui, então nossos inimigos, os soviéticos, iriam" - Mark Phillips, agente de inteligência da CIA
Em 1946 o presidente Truman aprovou o projeto "clipe de papel", trazendo os melhores cientistas de Hitler para os EUA. A ideia oficial e televisionada era a de trazer 700 cientistas que trabalhassem com a área de propulsão, dando início à corrida do homem à lua. Mas foi significativa a percepção de que desses 700 cientistas somente 100 trabalhavam efetivamente com física, mecânica e propulsões. Os outros 600 eram estudiosos da mente humana. Enquanto os cientistas de propulsão foram liderar o projeto espacial norte-americano, os cientistas da mente foram alocados em hospitais psiquiátricos e quartéis generais para continuar as pesquisas que estavam desenvolvendo na Alemanha nazista.
O projeto MK-Ultra
No final dos anos 50, a CIA começou a fundar projetos secretos com lavagem cerebral: "Lavagem cerebral (também conhecido como Reforma de pensamento ou Reeducação) é qualquer esforço constituído visando premir certas atitudes e crenças de uma pessoa - crenças consideradas indesejáveis ou em conflito com as crenças e conhecimentos das outras pessoas. Motivos para a lavagem cerebral podem incluir o objetivo de afetar o pensamento e comportamento do indivíduo que o sistema de valores padrão considerada indesejável." - Wikipedia
Experimentos de privação
Quando colocamos uma pessoa em uma situação em que é impossível se alimentar, não permitindo que ela durma, ou sobrecarregando ela com sons, se você usar tratamento de choque de forma massiva ou der a ela altas doses de drogas como PCP, mescalina, anfetaminas, LSD, se você a coloca em longos períodos de escuridão, onde ela não pode prever o que irá acontecer a seguir e onde ela estará constantemente com medo, sob essas condições qualquer pessoa vai lesando suas defesas mentais. Se pensarmos em filtros perceptivos que desenvolvemos ao longo de nossas vidas e que são responsáveis pelo desenvolvimento e maturação de nossa consciência estar constantemente sob o efeito dessas substâncias ou situações vai criando poros cada vez maiores nas telas do "tecido" que filtra nossas experiências e impede que a nossa energia psíquica se expanda e se perca.
Privação da paz
Quando somos privados, diariamente, pela Grande Mídia da possibilidade de termos um minuto de paz, tranquilidade e sossego, quando cada segundo da nossa atenção deve ser usado para nos deixar tensos, inseguros, incertos e amedrontados - seja com medo da "sensação de insegurança", da "bala perdida", das tragédias do cotidiano dos outros repetidas à exaustão em nossas televisões, revistas e programas, seja com receio de não termos suficiente produto X ou Y para nos sentirmos suficientemente inseridos numa sociedade excludente - estamos sofrendo um rebaixamento do nivel mental e, também, uma grande perda de energia psíquica. A energia que deveríamos ter para efetivamente desenvolver respostas realmente alternativas a essa forma de manipulação mental.
A que serve esse medo? (raízes teleológicas do medo difuso)
Quando percebemos que boa parte, senão quase todo, o conteúdo dos jornais e programas televisivos de hoje em dia são baseados na difusão eterna e constante do sentimento de medo, percebemos que, de alguma forma, o desenvolvimento das pesquisas nazistas que migraram para os Estados Unidos foram muitíssimo bem sucedidas.
Uma sociedade é formada por indivíduos imersos num mesmo padrão cultural, mesmas questões sociais, idioma e crenças. Se a maior parte dos indivíduos dessa sociedade acredita que é incapaz de fazer algo para efetivamente modificar suas condições de vida e relações, isso provavelmente é verdade. Se a maior parte dos indivíduos acredita que é capaz de realizar mudanças, isso também é verdade. Isso se chama "profecia auto-realizadora".
Mas imagine uma sociedade em que os indivíduos são socializados diariamente no medo. No medo de não pertencer, de não ser bom o suficiente, de não ser amado, respeitado, considerado, de não ter seus direitos representados, de ser humilhado, massacrado e espancado pela polícia que deveria garantir seus direitos, de não ser considerado digno de atenção, afeto ou reconhecimento porque não tem determinado produto, conhecimento (jurídico, por exemplo), ou porque não tem um determinado comportamento (investir no Mercado de ações, por exemplo). Esse medo, essa sensação difusa de ausência de segurança e identidade é o melhor campo possível para a venda constante de produtos, costumes, ideias que se apresentem como soluções definitivas. Mas imagine que esses mesmos produtos, costumes e ideias sejam vítimas de uma propaganda massiva de ridicularização e disseminação de um novo medo que será criado na propaganda do novo produto, do novo costume, da nova ideia.
Motor, movimento, viabilidade
Esse é o motor de nossa sociedade contemporânea: medo. Ele foi eleito o mais simples, barato e eficaz método de influenciar decisões, movimentar o consumo e minimizar o pensamento autônomo, esse pensamento limítrofe que nos diz que é possível desligar a TV, consumir mais por necessidade que por diversão, investir nas relações humanas e na relação não monetarizada e não infantilizada consigo mesmo. Esse pensamento estranho (porque não visitado regularmente) que nos diz que um passeio com amigos ou um momento a sós consigo mesmo é mais salutar para a nossa integridade psíquica que uma relação infantilizada em que compramos brinquedinhos eletrônicos ou brincos e vestidos para calar uma espécie de "criança interior" que requer nossa atenção, cuidado e carinho. Em primeiro lugar atenção, cuidado e carinho não são apenas para crianças e carências sempre existirão, mas devem ser identificadas e supridas diretamente, não indiretamente. Se eu preciso de um tempo sozinho não vou substituir isso por um novo jogo de internet ou videogame, ou pela leitura de um livro ou um papo com um colega de trabalho, caso contrário a carência primária jamais será suprida e sim reprimida.
Nossa mente, nossa alma e nossas emoções, muitas vezes, são como um oceano. A repressão excessiva pode gerar um tsunami.
Pense um pouco agora:
Quais carências naturais você pode estar projetando em consumo?
Quais pedidos de ajuda internos você pode estar reprimindo?
A que(m) serve o teu consumo, à necessidade ou à diversão?
(Toda diversão deve necessariamente advir do consumo?)
E se fosse diferente, como seria?
Refazendo a frase com que começamos esse artigo eu a colocaria assim: Eu não posso sempre controlar o que se passa lá fora, mas posso sempre estar atento ao controle do que acontece aqui dentro.
Renato Kress
Diretor do Instituto ATENA
Criador dos treinamentos:
A Jornada do Herói
A Arte da Guerra Oriental
Estratégia em Ação
Liderança Corporativa e PNL
Criador dos projetos:
Mito e Mente
Arquetelos
Café com Conto
Essa frase eu gosto: "Eu não posso sempre controlar o que se passa lá fora, mas posso sempre controlar o que acontece aqui dentro" - Wayne Dyer
ResponderExcluirAcho que estamos vivendo em época de supervalorização ao externo, e assim impossibilita a perceber que o dentro é o que vai dizer o que está fora. Seu blog é muito bacana, parabéns. Cynthia