Sinestesia táctil: tristeza, alívio ou alegria na ponta dos dedos
A palavra sinestesia (do grego συναισθησία, συν- (syn-) "união" ou "junção" e -αισθησία (-esthesia) "sensação") é a relação de planos sensoriais diferentes: Por exemplo, o gosto com o cheiro, ou a visão com o olfato. O termo é usado na teoria da linguagem para descrever uma figura de linguagem e, também, uma série de fenômenos provocados por uma condição neurológica.
A Sinestesia Neurológica
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A sinestesia é um fenômeno perceptivo no qual um estímulo sensorial de determinada modalidade deflagra uma sensação de outra modalidade. Assim, um sinestésico pode "perceber" um aroma específico toda vez que vê a cor azul, ou "sentir" o amarelo quando tocam uma nota musical. Não se trata de um distúrbio. Os neurocientistas acreditam que a sinestesia se deve a algum cruzamento acidental dos circuitos sensoriais ocorrido durante o desenvolvimento cerebral.
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As experiências de A.W. (22 anos), uma menina com sinestesia táctil, descritas pelo neurocientista Vilayanur Ramachandran, da Universidade da Califórnia, em San Diego trazem a ligação direta entre o estímulo táctil e a deflagração de uma sensação ou a emoção imediata. A lista a seguir foi efetuada pelo Dr. Ramachandran, ligando diferentes tecidos a emoções da paciente:
Seda = bem-estar e contentamento
Brim = depressão
Veludo = confusão
Papéis com diferentes gramaturas = culpa, alívio ou impressão de que tem algo a esconder
A arte na vanguarda
Esse fenômeno neurológico já era conhecido por artistas como Charles Baudelaire (1921-1967). Baudelaire, segundo Tornitore (1999) defendia, através da Teoria das Correspondências, a existência de uma relação entre os domínios sensórios; para o poeta, certos cheiros estão associados a um certo tipo de verde, anunciando uma expansão no âmbito da sensibilidade onde é possível sentir um cheiro e ao mesmo tempo provar a doçura da música, ou ainda ver uma cor em particular. Em suma, defendia a proposta de que sons, cores e cheiros estão misteriosamente co-relacionados e que esta ligação é intrínseca à natureza das coisas.
Os Sentidos na Teoria dos Sistemas
Tornitore (1999) declara ainda que, em função da importância que os sentidos tem na vida humana, é fácil imaginar que não apenas a arte, mas todas as ciências (humanas, exatas, biológicas) são concebidas por meio de processos sinestésicos, retomando aqui as concepções de Morin no que se refere às relações entre o todo e as partes constituintes.
Ao tratar das questões ligadas à complexidade biológica, Edgar Morin declara: "(...) a complexidade começa logo que há sistema, isto é, inter-relações de elementos diversos numa unidade que se torna complexa (una e múltipla). A complexidade sistêmica manifesta-se, sobretudo, no fato de que o todo possui qualidades e propriedades que não se encontram no nível das partes." (Morin, 2000 p. 291). Além disso, se consideradas isoladas e inversamente, perceberemos o fato de que as partes possuem qualidades e propriedades que desaparecem sob o efeito das coações inerentes ao sistema.
Prática cognitiva, meória e estudo
Existem graus diversos de sinestesia. A própria teoria das cores e a noção de ergonomia podem auxiliar no estudo, na memorizção, percepção e demais operações inerentes ao processo cognitivo. Mesmo que não estejamos atentos para o nosso processo criativo ou nossa forma de estudar, ambas se articulam dentro de padrões inconscientes que se movem do "péssimo" ao "ótimo". Existem lugares, temperaturas, cores e texturas que nos motivam a relaxar ou a produzir. Procure observar a sua e use-a a seu favor!
Renato Kress
Diretor do Instituto ATENA
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