terça-feira, 30 de novembro de 2010

A Síndrome da "Falsa Esperança"

Expectativa e Frustração
Quantas vezes nos propomos a fazer algo e, diante de resultados pequenos ou insatisfatórios, deixamos nossos projetos de lado? Talvez fosse interessante parar e avaliar: Em que ponto estaríamos em muitos projetos caso houvéssemos perseverado neles? Talvez hoje nós falássemos melhor uma língua estrangeira, estivéssemos em um outro emprego, até mais satisfeitos conosco mesmos. 

Claro que enquanto não inventarem a tal "máquina do tempo" precisaremos nos concentar com o hoje, o aqui e o agora que muitos monges zen budistas ou taoístas percebem como o "único tempo possível". Então o que é possível fazer agora para perseverar? 

Universidade de Toronto, sobre expectativa e frustração
Segundo os psicólogos Jane Polivy e C. Peter Herman da Universidade de Toronto, a maioria das pessoas não consegue cumprir sua intenção de mudar porque têm expectativas exageradas. A causa seria o que chamam de "Síndrome da Falsa Esperança". Os pesquisadores observaram que várias mulheres obesas conseguiam reduzir seu peso por um curto período, mas não mantinham a meta por muito tempo. A explicação: em comparação com a própria expectativa, o resultado parecia pequeno - e isso era tomado como confirmação de que a mudança seria simplesmente impossível. 

Enquanto a preocupação delas era "perder peso", o problema maior estava em outro domínio: Bem estabelecer uma meta. Uma meta bem estabelecida não proporciona espaço nem para a ansiedade nem para a procrastinação, o retardo, o atraso, nem para o desânimo. Muitas de nossas expectativas cotidianas acabam se frustrando porque efetivamente montamos quadros ideais acerca do "estado atual" e do "estado desejado" sem efetivamente nos programarmos para cumprir as etapas dos diversos "estados intermediários". 

Cultura do "modo turbo"
Isso é um problema cultural e está intimamente ligado à pressa dos estímulos e das informações no mundo contemporâneo. Temos a falsa sensação de que entre o estado inicial e o estado final de nossas metas (sejam elas quais forem) há de haver um espaço mínimo de tempo, mesmo que para isso precisemos fazer esforços homéricos. O que acontece de fato? Nos esforçamos ensandecidamente, nos desgastamos completamente em poucos dias e, obviamente cansados e sem o resultado esperado, abandonamos a empreitada porque desgastamos toda a energia, física e mental, no início do processo. Então como estabelecer uma meta consciente e factível e chegar ao final dela?

Aspectos importantes do estabelecimento de metas
Quando estabelecemos metas pensamos em muitos aspectos, como por exemplo: sua relevância para nossas vidas, se essa meta é específica, mensurável, qual o prazo em que esperamos que ela se realize, se está sob nosso controle e tantas outras questões. Às vezes, por um vício cultural ocidental esquecemos de alguns fatores importantes:

1) Base: Estabeleça que você é humano! Não somos máquinas. É bom dar espaço em nossas metas para sentimentos, descanso, alimentação e outras questões inerentes ao fato de sermos humanos (não vai dar pra mudar isso).

2) Compreenda a importância do fluxo de energia. Se nos desgastamos ao longo do dia, fisicamente, emocionalmente, intelectualmente, é importante que tenhamos uma "recarga" condizente, seja ela qual for. Caso contrário estaremos gradualmente nos estressando (a definição de estresse é justamente o cansaço por esforço repetitivo sem a devida reposição) até o momento em que será impossível efetuar qualquer coisa. Conheço pessoas que têm vidas extremamente atarefadas e conseguem repor suas energias em longas horas de sono nos finais de semana ou banhos de banheira com água morna, tem quem descanse a mente dançando ou o corpo lendo. Encontre o seu caminho.

3) Divirta-se! A não ser que você se divirta no processo, seja diretamente, quando o processo em si proporcionar ou comportar essa diversão, seja indiretamente, quando o processo não permitir e você precisar criar pequenas recompensas ao longo do processo que te mantenham emocionalmente comprometido com a meta estabelecida. Permita-se brincar no processo. Lembro agora que, quando vou à academia chamo o lugar de "parquinho" e os aparelhos de "brinquedos". O clima mental leve que estabeleço me faz rir e - porque não? - me divertir ali.

O importante é lembrarmo-nos da idéia de Arthur Schopenhauer:  "Nada de grandioso na vida foi feito sem paixão".

Renato Kress
Diretor do Instituto ATENA

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

À Flor da Pele

Sinestesia táctil: tristeza, alívio ou alegria na ponta dos dedos

A palavra sinestesia (do grego συναισθησία, συν- (syn-) "união" ou "junção" e -αισθησία (-esthesia) "sensação") é a relação de planos sensoriais diferentes: Por exemplo, o gosto com o cheiro, ou a visão com o olfato. O termo é usado na teoria da linguagem para descrever uma figura de linguagem e, também, uma série de fenômenos provocados por uma condição neurológica.

A Sinestesia Neurológica
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A sinestesia é um fenômeno perceptivo no qual um estímulo sensorial de determinada modalidade deflagra uma sensação de outra modalidade. Assim, um sinestésico pode "perceber" um aroma específico toda vez que vê a cor azul, ou "sentir" o amarelo quando tocam uma nota musical. Não se trata de um distúrbio. Os neurocientistas acreditam que a sinestesia se deve a algum cruzamento acidental dos circuitos sensoriais ocorrido durante o desenvolvimento cerebral.
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As experiências de A.W. (22 anos), uma menina com sinestesia táctil, descritas pelo neurocientista Vilayanur Ramachandran, da Universidade da Califórnia, em San Diego trazem a ligação direta entre o estímulo táctil e a deflagração de uma sensação ou a emoção imediata. A lista a seguir foi efetuada pelo Dr. Ramachandran, ligando diferentes tecidos a emoções da paciente:

Seda = bem-estar e contentamento
Brim = depressão
Veludo = confusão
Papéis com diferentes gramaturas = culpa, alívio ou impressão de que tem algo a esconder

A arte na vanguarda
Esse fenômeno neurológico já era conhecido por artistas como Charles Baudelaire (1921-1967). Baudelaire, segundo Tornitore (1999) defendia, através da Teoria das Correspondências, a existência de uma relação entre os domínios sensórios; para o poeta, certos cheiros estão associados a um certo tipo de verde, anunciando uma expansão no âmbito da sensibilidade onde é possível sentir um cheiro e ao mesmo tempo provar a doçura da música, ou ainda ver uma cor em particular. Em suma, defendia a proposta de que sons, cores e cheiros estão misteriosamente co-relacionados e que esta ligação é intrínseca à natureza das coisas.

Os Sentidos na Teoria dos Sistemas
Tornitore (1999) declara ainda que, em função da importância que os sentidos tem na vida humana, é fácil imaginar que não apenas a arte, mas todas as ciências (humanas, exatas, biológicas) são concebidas por meio de processos sinestésicos, retomando aqui as concepções de Morin no que se refere às relações entre o todo e as partes constituintes. 

Ao tratar das questões ligadas à complexidade biológica, Edgar Morin declara: "(...) a complexidade começa logo que há sistema, isto é, inter-relações de elementos diversos numa unidade que se torna complexa (una e múltipla). A complexidade sistêmica manifesta-se, sobretudo, no fato de que o todo possui qualidades e propriedades que não se encontram no nível das partes." (Morin, 2000 p. 291). Além disso, se consideradas isoladas e inversamente, perceberemos o fato de que as partes possuem qualidades e propriedades que desaparecem sob o efeito das coações inerentes ao sistema. 

Prática cognitiva, meória e estudo
Existem graus diversos de sinestesia. A própria teoria das cores e a noção de ergonomia podem auxiliar no estudo, na memorizção, percepção e demais operações inerentes ao processo cognitivo. Mesmo que não estejamos atentos para o nosso processo criativo ou nossa forma de estudar, ambas se articulam dentro de padrões inconscientes que se movem do "péssimo" ao "ótimo". Existem lugares, temperaturas, cores e texturas que nos motivam a relaxar ou a produzir. Procure observar a sua e use-a a seu favor!

Renato Kress
Diretor do Instituto ATENA

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Pílulas da inteligência

O uso de medicamentos para melhorar o desempenho intelectual em pessoas saudáveis é uma questão polêmica, agora, porém, o uso responsável de recursos tecnológico para "turbinar" o cérebro conta com o apoio de renomados neurocientistas, que publicaram na revista "nature" um manifesto a favor da prática.
Metilfenidato

Mercado Negro da inteligência
Entre as drogas destinadas a esse fim estão o metilfenidato, mais conhecido como Ritalina, usado para o tratamento da síndrome de déficit de atenção e hiperatividade, e o modafinil, indicado para pacientes com narcolepsia. Muitos pesquisadores e estudantes dos EUA vêm usando estes remédios adquiridos no mercado negro uma vez que são vendidos legalmente apenas sob prescrição.

Doping mental
Existem os que defendem que o uso da farmacologia para aperfeiçoar a capacidade cognitiva não deve ser visto como uma espécie de "trapaça", já que a humanidade sempre buscou formas de aperfeiçoar seu desempenho, seja por meio da educação, da alimentação ou da meditação, por exemplo. Cientistas argumentam, no entanto, que essas drogas devem ser cuidadosamente estudadas para esse fim, e devem ser avaliados seus riscos e benefícios. "Se os novos métodos forem eficazes e seguros, vão beneficiar os indivíduos e à sociedade", escreveram.

Saúde pessoal, trapaça social
Uma boa noite de sono, um café na medida certa, organização física do ambiente de estudo ou trabalho e prática regular de exercícios físicos também clarificam os pensamentos, aceleram os processos cognitivos e ampliam a concentração e a produtividade. A questão agora é definir até que ponto esses mecanismos novos de "turbo" mental não são danosos à saúde dos indivíduos a médio ou longo prazo e, também, de que forma eles podem ser compreendidos como "doping" em exames. Afinal, um candidato que deva seu resultado numa prova ao uso de um medicamento como esse foi aprovado por ter um determinado "padrão" intelectual específico - o demonstrado no exame - e, portanto, espera-se que deva trabalhar sempre dentro desse padrão, ou seja, sob efeito de drogas.

A questão é delicada e as diferentes opiniões podem ser conferidas no fórum público da Nature: http://tinyurl.com/6nyu29

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Palestra gratúitas on-line

Informação e qualidade criando conhecimento

A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) está colocando na internet os vídeos das palestras de seus congressos anuais.

Já estão disponíveis os de 2006 e 2007. Os temas são variados, sendo alguns deles nas áreas de psicologia, neurociências e filosofia. Entre os destaques da reunião de 2006 estão "Depressão, pânico e ansiedade", pelo neurobiólogo Antônio de Pádua Carobres, da Universidade Federal de Santa Catarina, "Neuroética: a profecia de Prometeu retomada", pelo neurocientista Roberto Lent, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. O evento de 2007 têm as apresentações "Neurociências e doenças tropicais, pelo neurocientista Luis Carlos de Lima Silveira, da Universidade Federal do Pará, e "É possível uma doutrina moral?" pelo filósofo José Arthur Giannotti, da Universidade de São Paulo.

O endereço é: www.sbpcnet.org.br (No menu, clique em "vídeos")