terça-feira, 26 de março de 2013

Labirintos de Mnemosine: Um panorama da aprendizagem e da memória (parte 1)

Visões da memória: Mnemosine e um pen-drive
Os caminhos da deusa
Mnemosine era a deusa da memória, na Grécia e mãe das Musas: Calíope (eloquência), Clio (história), Erato (poesia lírica), Euterpe (música), Melpômene (tragédia), Polímnia (musica cerimonial), Tália (comédia), Terpsicore (dança), Urânica (astronomia e astrologia). Não por acaso a memória era a mãe das várias áreas do conhecimento que eram consideradas importantes entre os gregos antigos. A memória é a mãe do aprendizado!

Qualquer treinamento envolve aprendizagem e memorização de novos dados, comportamentos ou perícias. Compreender melhor a relação entre esses dois fatores pode nos ajudar em diversas situações, afinal, tudo envolve aprendizado, desde nossa fala e estratégias para lidar com o mundo ao nosso redor até nossas relações sociais e profissionais.

A velocidade com que os dados nos chegam hoje em dia, pela televisão, internet, redes sociais e companhia nem sempre se coaduna com a nossa perícia particular em estruturar esses dados em informação, conhecimento ou experiência. Ou seja: nem sempre exercitamos nossa perícia em transformar informação em conhecimento e, menos ainda, conhecimento em experiência. Através dessa percepção é que resolvi pesquisar e escrever esse artigo, para estudar os fenômenos da memória e da aprendizagem e repensar nossas formas de treiná-los.

Um conceito, uma raiz e alguns brotamentos
Gosto de iniciar meus estudos por perguntas conceituais. Geralmente é a partir delas que desembocamos em caminhos mais interessantes. Então pesquisei a resposta para os seguintes conceitos: O que seriam, neurologicamente, o "aprendizado" e a "memória"?

Segundo o neurocientista Eric R. Kandel do Centro de Neurobiologia e Comportamento da universidade de Columbia, "O aprendizado é o processo por meio do qual nós e outros animais adquirimos conhecimento sobre o mundo e a memória é a retenção ou armazenamento desse conhecimento". Parece bem simples, mas é daí, da simplicidade, que poderemos partir para o desenvolvimento e treinamento dessas funções. Afinal, o Instituto ATENA é um Instituto de treinamento e todo treinamento envolve tanto a memória quanto a aprendizagem.

Behaviorismo e aprendizagem
A aprendizagem esteve no auge dos estudos em psicologia durante os anos de 1930 a 1970, quando o behaviorismo reinava no mundo acadêmico. Desde então os estudos concernentes a esse assunto declinaram a ponto de desaparecer dos manuais de psicologia. A guinada cognitiva que ocorreu nessa disciplina é caracterizada por um certo abandono da aprendizagem em benefício, justamente, dos estudos sobre a memória.

As abordagens do aprendizado segundo os behavioristas estavam centradas em quantificar a precisão com que um animal (o cachorro de Pavlov, os gatos de Thorndike e a pomba de Skinner) "aprendia" uma determinada solução para uma situação-problema dada. O que diferenciava as experiências era justamente a via de acesso a essa aprendizagem. Então vieram as abordagens cognitivas.

"Insight", "mapa cognitivo" e "aprendizagem social"
O psicólogo alemão Wolfgang Köhler mostrou o mecanismo do "insight", um aprendizado ou descoberta repentina, através de uma experiência com um macaco, uma banana colocada longe do seu alcance e uma caixa de madeira. Em pouco tempo o macaco colocava a caixa embaixo da banana, subia nela e resolvia o problema. O americano Edward C. Tolman

Todas essas formas de aprendizagem, incluindo as posições da pedagogia e da aprendizagem organizacional (da qual falaremos mais e melhor em outra oportunidade), incluem possibilidades de ampliação do "mapa cognitivo" e das respostas possíveis dentro de uma situação-problema. Cabe a nós, aqui, efetuar o nosso corte, delimitar o nosso foco. O que, nesse vasto campo, interessa a uma empresa de treinamentos?

demonstrou que ratos dentro de um labirinto criam uma representação interna ou um "mapa cognitivo" de seu ambiente, deixando de percorrer áreas que não levavam à recompensa (queijo). Albert Bandura demonstrou que há um componente social do aprendizado analisando a velocidade e a retensão do dado da informação entre comunidades de peixes, ratos, macacos e humanos. Segundo seus estudos aprendemos melhor em presença de um congênere, seja por imitação ou "facilitação social", que determina a performance do indivíduo na presença observadores.
Funções da memória podem ser localizadas em regiões específicas do cérebro

Hipocampo - Criatura mitológica
Até metade do século XX a maior parte dos estudiosos do aprendizado duvidava de que as funções da memória poderiam vir a ser localizadas em diferentes regiões cerebrais específicas. Na verdade, muitos estudiosos do comportamento chegaram a duvidar de que a memória seria uma função distinta da mente, independente da atenção, da linguagem e da percepção. A opinião de que o armazenamento da memória [memory storage] é amplamente distribuída por todo o cérebro contrastava de modo muito acentuado com a opinião emergente sobre a localização de outras funções cerebrais.

Se por um lado se acreditava que muitas funções cerebrais eram localizadas espacialmente, como foi demonstrado desde os estudos de Broca sobre a linguagem, ficava a questão: por quê justamente a memória, uma das mais importantes, seria uma função compartilhada por várias áreas do cérebro?

Em 1861 o antropólogo e médico francês Pierre Paul Broca mostrou que lesões na parte posterior do lobo frontal, no lado esquerdo do cérebro (área de Broca) produziam um defeito específico na linguagem. Após essa localização da linguagem não demorou muito para que os neurocientistas começassem a observar se a memória também poderia ser espacialmente localizada.

Regiões e tipos de memória
Durante quase um século a opinião geral dos neurocientistas era de que a memória seria uma propriedade geral do córtex cerebral como um todo. Na verdade estudos recentes tem demonstrado que a memória depende, realmente, de muitas regiões cerebrais. Na realidade existem diferentes tipos de memória e determinadas regiões cerebrais são muito mais importantes para alguns tipos que para outros. Além do quê diferentes tipos de memórias são armazenados em sistemas neurais distintos.

A memória não é unitária e pode ser classificada como implícita ou explícita, com base em como a informação é armazenada e recuperada.

Aprendemos sobre o que é o mundo - adquirindo conhecimento sobre pessoas, lugares e coisas, que é acessível à consciência, usando uma forma de memória que é em geral chamada de "explícita". Ou aprendemos como fazer coisas - adquirindo habilidades motoras ou perceptivas a que a consciência não tem acesso - usando a memória implítica.

Memória explícita
A memória explícita codifica informações sobre eventos autobiográficos, bem como o conhecimento de fatos. Sua formação depende de processos cognitivos do tipo da avaliação, comparação e inferência. As memórias explícitas podem ser recuperadas por ato deliberado de recordação. Por vezes são estabelecidas por teste ou experiência única e, com frequência, podem ser expressas concisamente em frases declarativas como "No último verão conheci Marcos, o primo de Felipe" (evento autobiográfico), ou "O chumbo é mais pesado que o ar" (conhecimento de um fato).


A memória é um processo criativo
Quão precisa é a memória explícita? Essa questão foi explorada em uma série de estudos na qual sujeitos eram instruídos a lerem estórias e, depois, recontá-las. Quando essas estórias recontadas foram analisadas ficou demonstrado que eram mais curtas e mais coerentes que as estórias originais. Desse modo, as estórias recontadas refletiam reordenação, reconstrução e condensação do original. Os sujeitos desconheciam que estavam editando as estórias originais e, muitas vezes, demonstravam mais certeza sobre sua própria versão editada que sobre o texto original. Os sujeitos não estavam confabulando; simplesmente estavam interpretando o material original, de modo a ter sentido quando recordado.

Observações desse tipo nos levam a acreditar que a memória explícita para eventos passados é um processo criativo, refletindo um processo sintetizador ou reconstrutor. A informação armazenada como memória explícita é o produto do processamento por nosso aparelho perceptivo. É um processo no qual a pessoa interpreta o dado de informação do ponto de vista de um lugar específico no espaço e de um ponto específico de sua história. Ou seja: nossos mapas de mundo, nossa leitura do universo ao nosso redor, influencia nosso processo cognitivo: nossas memórias e nosso aprendizado.

Ampliação do mapa, ampliação da memória
Novos caminhos cognitivos implicam em maior número de ligações possíveis entre os dados da informação, por isso apostamos em treinamentos transdisciplinares. Acreditamos que eles tenham, basicamente, duas vantagens competitivas em relação aos treinamentos tradicionais:

1. Reestruturação lógico-narrativa dos conteúdos trabalhados: Colocar em uma ordem narrativa os dados novos apreendidos ao longo dos nossos treinamentos faz com que as informações passadas sejam colocadas numa sequência narrativa lógica e cronológica, tornando sua memorização mais simples e, de certa forma, intuitiva. Sempre lembramos melhor de quaisquer eventos ou dados de informação se criarmos uma sequência lógica entre eles.

2. Ampliação das ligações neurais: Treinamentos transdisciplinares envolvendo áreas diversas do conhecimento humano não só são mais simples de serem compreendidos por diferentes sujeitos com diferentes leituras da realidade, como também ampliam as  concepções possíveis para um mesmo assunto. Se as informações são retidas na nossa mente através de uma rede de pontos interligados, os treinamentos transdisciplinares fornecem novos pontos, fortalecendo a aprendizagem como um todo, ampliando o "mapa cognitivo" do mundo e a possibilidade de "insights", leituras novas e perspectivas criativas!


No próximo artigo falaremos sobre:
- Memória implícita e treinamento
- Vias de acesso: Quais são as principais formas de aprendizado?
- Velocidade: Que tipo de relações são aprendidas mais rapidamente?
- Passo a passo da memória: Quais as etapas para a formação da memória?
- Os mecanismos celulares da memória e o que eles nos ensinam sobre o processo de aprendizado.

Artigo por Rento Kress
Diretor do Instituto ATENA

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Guerra Psicológica: Ideias sobre mente, memória, medo, mentira, poder e controle

"Eu não posso sempre controlar o que se passa lá fora, mas posso sempre controlar o que acontece aqui dentro" - Wayne Dyer

Lembro-me de quando era adolescente e perguntei a uma ex-namorada o que ela estava pensando. A resposta foi interessantíssima: "Meu pensamento é a coisa mais íntima que eu tenho. Você não vai ter acesso a ele e se tiver será muito pouco." É comum acreditarmos que nossas mentes são refúgios inalcançáveis onde estamos seguros com nossos pensamentos, segredos, ideias e projetos. Normalmente agimos como se nossos pensamento fosse algo completamente único, singular, formado apenas numa espécie de "caixa preta" neuronal da nossa mente. Mas será que efetivamente é assim?

Energia psíquica
O psicólogo suíço Carl Gustav Jung, em sua obra "A energia psíquica" constatou que os nossos "sistemas psíquicos" contém quantidades diferentes de energia psíquica. Que era natural que a "carga" de "energia psíquica" (também conhecida como "libido") dentro de um sistema (mente) era diferente da carga em outro sistema (outro indivíduo, outra mente). Mas o mais importante é que a natureza a energia, em qualquer sistema - seja ele mental, elétrico, hidráulico - é dispersar-se e transformar-se.

Difusão de energia, ampliação e equilíbrio
Mas é inegável que uma pessoa influencia outra, que uma boa ideia incentiva e, de uma certa forma, contamina uma ou várias mentes, angaria seguidores e promove mudanças na "carga" energética dentro dos sistemas mentais de vários indivíduos. Dessa forma os sistemas mentais deveriam poder ser intercambiáveis, ainda que mantivessem certas características básicas e próprias de cada sistema.

Polarizações e leituras dos mapas da realidade
Todo sistema energético é formado por dois pólos em constante troca. Podemos observar isso em uma bateria. Temos um pólo positivo e um pólo negativo. Esses pólos são necessários porque balizam a circulação da energia. É necessário que existam, sim, em número maior do que dois (caso contrário a energia não se moveria, o que equivaleria à inércia e à morte psíquica). Quando temos dois pólos temos uma grande polarização de energia fluindo para dois pontos. Temos uma dicotomia. É o que temos em geral em tempos de guerra, uma grande polarização energética em dois pontos gerando identificação, por um lado, e repulsa, por outro. Amamos e nos identificamos com os "Aliados" e seus ideais de liberdade, igualdade e democracia (a essa altura a fraternidade foi para o espaço) e odiamos o "Eixo" e seus ideais de pureza, eficácia intelectual e instrumentalização da ciência para obtenção de poder.
"Persona" e "sombra" também podem ser aplicados
às nossas concepções políticas e culturais

As leituras que fazemos do mundo nesses momentos são, também, influenciadas pela quantidade de pólos energéticos pelos quais deixamos fluir cotidianamente essa energia. Se temos dois pólos tendemos a endeusar um deles em detrimento do outro que será devidamente "demonizado". A bipolaridade serve a um rebaixamento do nível mental dentro da cultura ocidental uma vez que, desde o Masdeísmo tendemos a criar bipartições conflituosas (dicotomias insolúveis onde o "completamente bom" não dialoga com o "completamente mau") ao invés de complexos de opostos que operam diversas conjunções harmônicas ao longo do tempo. Essas difusões geram uma fragmentação do nosso contato com a realidade, um corte com a lógica naturalmente amoral e indiferente do mundo, uma esquizofrenia. Quando digo lógica amoral e indiferente estou dizendo que por mais que nós, seres humanos, façamos um árduo e poderoso trabalho constante e praticamente imemorial de dotar a realidade ao nosso redor de algum sentido, ela, a realidade, continua operando independente de nossas concepções e ideias. Posso me imaginar voando por anos e isso não vai fazer com que eu efetivamente voe, posso imaginar um foguete com propulsão de antimatéria que, por ação de uma anti-gravidade chegaria aos mais longínquos planetas, mas isso não vai fazer com que o foguete apareça no meu quintal, muito menos em Marte.

Sistema semi-abertos
Demonstração do sistema de representação que a Programação Neurolingüística (pnl) faz do mundo
Mas voltando ao tema dos sistemas mentais por onde a energia psíquica flui. Considerando que tratam-se de sistemas semi-abertos, que estão sujeitos a influências externas, como o homem, em sua ânsia de poder e controle sobre os demais homens, tem levado adiante essas concepções, e o mais importante, como isso afeta nossas vidas diárias?

O jogo mais perigoso
O que hoje se compreende como guerra psicológica foi na Alemanha Nazista, na ideologia nazista eles tinham algo chamado "Weltanschauungskrieg" que significa literalmente "guerra de visão de mundo" ou o que hoje em dia poderíamos chamar de "guerra ideológica". A ideia que eles tinham como substrato para esse conceito era a de impor a visão de mundo dos nazistas aos países que estavam ocupando. Algo muito semelhante ao que o Império Romano fez quando unificou todo o seu território sob o domínio do cristianismo, com o imperador Constantino, no Concílio de Nicéia.

O desenvolvimento do jogo, nascimento da Guerra Psicológica
Os estadunidenses pegaram essa ideia e criaram sua própria "versão americana" e chamaram isso de "Psychological Warfare", ou seja "guerra psicológica":

"Guerra Psicológica: É o uso de propaganda ou outros meios psicológicos de influenciar ou confundir o pensamento e minar a moral do inimigo ou oponente." - Dicionário Websters

"O uso planejado de propaganda ou outras ações psicológicas com o objetivo primário de influenciar as opiniões, emoções, atitudes e comportamentos de grupos hostis, de forma a alcançar os objetivos da nação" - Definição de Psywar (guerra psicológica) pelo Departamento de Defesa Norte Americano

O projeto Clip de Papel
Hoje em dia quando uma nação está muito avançada em relação às demais em um determinado campo da ciência, como a computação, a medicina, a psicologia etc, o que normalmente se faz é criar projetos de bolsas de estudos e migração de profissionais e estudantes para os países que pretendem se apoderar desse conhecimento ou dessas técnicas. Nesses países os profissionais são muitíssimo bem remunerados e bem tratados. É o que chamamos de "evasão de cérebros". E foi exatamente isso que os Estados Unidos fizeram com os cientistas nazistas capturados logo após a segunda guerra mundial, na operação "Paper Clip" ou "clip de papel".

"O projeto Clip de Papel foi uma sansão do governos dos Estados Unidos, uma operação da CIA, para importação de cientistas nazistas e fascistas para os Estados Unidos. Eles declaravam - 'Se nós nao trouxermos essas pessoas para os Estados Unidos e conter todos eles aqui, então nossos inimigos, os soviéticos, iriam" - Mark Phillips, agente de inteligência da CIA

Em 1946 o presidente Truman aprovou o projeto "clipe de papel", trazendo os melhores cientistas de Hitler para os EUA. A ideia oficial e televisionada era a de trazer 700 cientistas que trabalhassem com a área de propulsão, dando início à corrida do homem à lua. Mas foi significativa a percepção de que desses 700 cientistas somente 100 trabalhavam efetivamente com física, mecânica e propulsões. Os outros 600 eram estudiosos da mente humana. Enquanto os cientistas de propulsão foram liderar o projeto espacial norte-americano, os cientistas da mente foram alocados em hospitais psiquiátricos e quartéis generais para continuar as pesquisas que estavam desenvolvendo na Alemanha nazista.

O projeto MK-Ultra
Hitler, Goebbels e seus comparsas consideravam a guerra psicológica a melhor resposta para a dominação global e parece que os cientistas de Estado norte-americanos também pensavam de uma forma similar, pois começaram a desenvolver suas próprias aplicações para o controle mental. O projeto norte americano passou a se chamar MK-Ultra e foi basicamente um programa (de uma série de programas que vieram através da CIA) para experimentar tipos diferentes de controle (e influência) mental usando drogas, choques elétricos, choques de insulina e outras técnicas. Os primeiros testes em humanos foram aplicados a soldados norte-americanos que tomavam doses de LSD e PCP, sem o seu consentimento.

No final dos anos 50, a CIA começou a fundar projetos secretos com lavagem cerebral: "Lavagem cerebral (também conhecido como Reforma de pensamento ou Reeducação) é qualquer esforço constituído visando premir certas atitudes e crenças de uma pessoa - crenças consideradas indesejáveis ou em conflito com as crenças e conhecimentos das outras pessoas. Motivos para a lavagem cerebral podem incluir o objetivo de afetar o pensamento e comportamento do indivíduo que o sistema de valores padrão considerada indesejável." - Wikipedia

Experimentos de privação
Quando colocamos uma pessoa em uma situação em que é impossível se alimentar, não permitindo que ela durma, ou sobrecarregando ela com sons, se você usar tratamento de choque de forma massiva ou der a ela altas doses de drogas como PCP, mescalina, anfetaminas, LSD, se você a coloca em longos períodos de escuridão, onde ela não pode prever o que irá acontecer a seguir e onde ela estará constantemente com medo, sob essas condições qualquer pessoa vai lesando suas defesas mentais. Se pensarmos em filtros perceptivos que desenvolvemos ao longo de nossas vidas e que são responsáveis pelo desenvolvimento e maturação de nossa consciência estar constantemente sob o efeito dessas substâncias ou situações vai criando poros cada vez maiores nas telas do "tecido" que filtra nossas experiências e impede que a nossa energia psíquica se expanda e se perca.

Privação da paz

Quando somos privados, diariamente, pela Grande Mídia da possibilidade de termos um minuto de paz, tranquilidade e sossego, quando cada segundo da nossa atenção deve ser usado para nos deixar tensos, inseguros, incertos e amedrontados - seja com medo da "sensação de insegurança", da "bala perdida", das tragédias do cotidiano dos outros repetidas à exaustão em nossas televisões, revistas e programas, seja com receio de não termos suficiente produto X ou Y para nos sentirmos suficientemente inseridos numa sociedade excludente - estamos sofrendo um rebaixamento do nivel mental e, também, uma grande perda de energia psíquica. A energia que deveríamos ter para efetivamente desenvolver respostas realmente alternativas a essa forma de manipulação mental.

A que serve esse medo? (raízes teleológicas do medo difuso)
Quando percebemos que boa parte, senão quase todo, o conteúdo dos jornais e programas televisivos de hoje em dia são baseados na difusão eterna e constante do sentimento de medo, percebemos que, de alguma forma, o desenvolvimento das pesquisas nazistas que migraram para os Estados Unidos foram muitíssimo bem sucedidas.

Uma sociedade é formada por indivíduos imersos num mesmo padrão cultural, mesmas questões sociais, idioma e crenças. Se a maior parte dos indivíduos dessa sociedade acredita que é incapaz de fazer algo para efetivamente modificar suas condições de vida e relações, isso provavelmente é verdade. Se a maior parte dos indivíduos acredita que é capaz de realizar mudanças, isso também é verdade. Isso se chama "profecia auto-realizadora".

Mas imagine uma sociedade em que os indivíduos são socializados diariamente no medo. No medo de não pertencer, de não ser bom o suficiente, de não ser amado, respeitado, considerado, de não ter seus direitos representados, de ser humilhado, massacrado e espancado pela polícia que deveria garantir seus direitos, de não ser considerado digno de atenção, afeto ou reconhecimento porque não tem determinado produto, conhecimento (jurídico, por exemplo), ou porque não tem um determinado comportamento (investir no Mercado de ações, por exemplo). Esse medo, essa sensação difusa de ausência de segurança e identidade é o melhor campo possível para a venda constante de produtos, costumes, ideias que se apresentem como soluções definitivas. Mas imagine que esses mesmos produtos, costumes e ideias sejam vítimas de uma propaganda massiva de ridicularização e disseminação de um novo medo que será criado na propaganda do novo produto, do novo costume, da nova ideia.

Motor, movimento, viabilidade
Esse é o motor de nossa sociedade contemporânea: medo. Ele foi eleito o mais simples, barato e eficaz método de influenciar decisões, movimentar o consumo e minimizar o pensamento autônomo, esse pensamento limítrofe que nos diz que é possível desligar a TV, consumir mais por necessidade que por diversão, investir nas relações humanas e na relação não monetarizada e não infantilizada consigo mesmo. Esse pensamento estranho (porque não visitado regularmente) que nos diz que um passeio com amigos ou um momento a sós consigo mesmo é mais salutar para a nossa integridade psíquica que uma relação infantilizada em que compramos brinquedinhos eletrônicos ou brincos e vestidos para calar uma espécie de "criança interior" que requer nossa atenção, cuidado e carinho. Em primeiro lugar atenção, cuidado e carinho não são apenas para crianças e carências sempre existirão, mas devem ser identificadas e supridas diretamente, não indiretamente. Se eu preciso de um tempo sozinho não vou substituir isso por um novo jogo de internet ou videogame, ou pela leitura de um livro ou um papo com um colega de trabalho, caso contrário a carência primária jamais será suprida e sim reprimida.

Nossa mente, nossa alma e nossas emoções, muitas vezes, são como um oceano. A repressão excessiva pode gerar um tsunami.

Pense um pouco agora:
Quais carências naturais você pode estar projetando em consumo?
Quais pedidos de ajuda internos você pode estar reprimindo?
A que(m) serve o teu consumo, à necessidade ou à diversão?
(Toda diversão deve necessariamente advir do consumo?)
E se fosse diferente, como seria?


Refazendo a frase com que começamos esse artigo eu a colocaria assim:
Eu não posso sempre controlar o que se passa lá fora, mas posso sempre estar atento ao controle do que acontece aqui dentro. 

Renato Kress
Diretor do Instituto ATENA

Criador dos treinamentos:
A Jornada do Herói
A Arte da Guerra Oriental
Estratégia em Ação
Liderança Corporativa e PNL

Criador dos projetos:
Mito e Mente
Arquetelos
Café com Conto

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Meta sã, mente sã: Meta e integridade psíquica

Você já se pegou observando as possibilidades de diagnóstico - os nomes que os profissionais da área da saúde psíquica dão - para a nossa ansiedade e irritabilidade ocidental, pós-moderna e contemporânea? Podemos ter um déficit de atenção, sermos bipolares, excessivamente frios (tendências à psicopatia) ou afetuosos (tendências à hiperdependência, imaturidade etc). São rotulações que manifestam uma questão social mais grave: a dificuldade de nos centrarmos.

Muito do que presenciamos hoje em relação às angústias dos seres humanos está diretamente ligado às dificuldades em estabelecermos metas para nossas ações. Numa sociedade mergulhada em milhões de estímulos apontando diferentes direções não é incomum - pelo contrário é até certo ponto muito natural e "sinal dos tempos" - encontrarmos cada vez mais indivíduos tensos, inseguros, estressados, irritadiços, que serão rotulados como bipolares, portadores dos mais diversos transtornos psicológicos.

Independente do rótulo da moda - que varia e continuará variando através do tempo - tendo a observar com seriedade o quadro de sofrimento psíquico imposto de fora para dentro ao sujeito imerso nesse universo cultural de multiplas possibilidades e como isso se espelha no seu mosaico íntimo de representações e pertencimentos. Essa pandemia de estímulos é uma realidade contemporânea e para se proteger do sofrimento psíquico que ela pode acarretar, é necessário que estabeleçamos, pessoalmente, um foco para a nossa jornada, para o nosso caminhar, algo em direção à qual nossas escolhas serão tomadas, um caminho, uma harmonia íntima, é preciso que estabeleçamos metas.

O objetivo direciona o comportamento
A fixação de objetivos constitui um dos campos de estudo mais explorados e mais solidamente estabelecidos em psicologia. Dois autores consagrados dessa área, Edwin A. Locke e Gary P. Latham desenvolveram uma teoria da fixação de objetivos segundo a qual o comportamento é intencional e a vontade de agir em um sentido específico deriva, em primeiro lugar, da existência de um objetivo a perseguir.

Foco: objetivo que regula a performance
Os objetivos são importantes reguladores do comportamento, pois incitam à ação e dirigem a energia para atividades bem definidas. Quando estamos orientados para a conquista de nossos objetivos concentramos automaticamente nossos esforços nos comportamentos que nos permitem atingi-los, deixando outras atividades (estranhas à realização de nosso objetivo primário, ou "meta")  em segundo plano. Através de uma meta bem estabelecida podemos discernir a relevância das possibilidades e é isso o que sustenta a nossa saúde psíquica, o que nos evita de cairmos em qualquer um dos possíveis "rótulos" no início desse texto. 

Foco e mudança de comportamento
Através desses estudos Locke e Latham chegaram à compreensão de que é através de intervenção orientada sobre as metas dos indivíduos que se pode efetivamente operar mudanças significativas nos seus comportamentos. Ou seja: para mudarmos nossos comportamentos, os atos com que escrevemos nossa história através do tempo, é necessário que mudemos nosso foco, nossa orientação primária. Para termos uma "escrita coesa" (apenas para manter a metáfora anterior) de nossa biografia é necessário que bem estabeleçamos nossa finalidade.

Meta clara, precisa e desafiadora!
Segundo a teoria da fixação de objetivos, quanto mais claros forem estes últimos, quanto mais precisos e difíceis de serem atingidos (sendo sempre possíveis, claro), melhor seria a performance que seríamos capazes de atingir.

A arte do bom desafio
Costumo dizer a meus sobrinhos que quando alguém lhes diz que eles não são capazes de fazer qualquer coisa a mensagem que eles devem ouvir é "estou morrendo de medo de que você consiga fazer isso". Gosto de ver o sorriso de liberdade e o brilho nos olhos deles quando eles percebem o jogo por trás das palavras. É uma alavanca fenomenal!

O que quero dizer com isso é que captamos melhor o que se espera de nós e conseguimos direcionar mais facilmente nossos esforços quando os bjetivos que são fixados são claros e precisos, mas que principalmente os objetivos nos parecem mais estimulantes à medida em que seus níveis de dificuldade vão se tornando mais altos, sem que sejam, é claro, impossíveis. É um jogo delicado e tão complexo quanto excitante.

A conquista do objetivo deve ser um desafio: um objetivo muito fácil de ser atingido será percebido como desinteressante, enquanto um objetivo impossível terá como efeito desencorajar o indivíduo, é no meio termo que ocorre o desafio e a motivação.

Pesquisas de campo e resultados
As conclusões principais do estudo de Locke e Latham foram:

1. Pessoas que perseguem um objetivo claro, preciso e difícil apresentam um melhor desempenho do que as que não tem um objetivo explícito a atingir.
2. A performance aumenta em uma relação proporcional ao nível de dificuldade do objetivo até que o indivíduo tenha atingido o limite de suas competências, ou tenha abandonado o objetivo.

3. Objetivos precisos e difíceis geram melhores resultados que objetivos difíceis porém pouco nítidos (por exemplo "faça o melhor que puder!").

4. Para que os objetivos sejam eficazes, eles devem provocar o comprometimento das pessoas para com eles.

O comprometimento, este distinto evasivo
Locke e Latham compreenderam também que, para aumentar esse comprometimento, é interessante que todos os envolvidos no processo de obtenção daquele objetivo tenham ao menos algum grau de participação  no momento de fixação dessas metas, alguma forma de recompensa pelos esforços realizados e, principalmente, oferecer apoio ao longo da jornada em direção àquele objetivo.

Criando objetivos de qualidade
Objetivos de qualidade, segundo os dois psicólogos, são objetivos que passam pelos crivos anteriores: claros, precisos e suficientemente difíceis (desafiadores). A criação desses objetivos estimularia os envolvidos a despender mais esforços para sua consecussão, os incentivaria a dirigir sua energia para esses objetivos e os levaria a perseverar em seus esforços apesar dos obstáculos.

Sua(s) meta(s) atual(is) é(são) suficientemente clara(s), precisa(s) e desafiadora(s)?

Texto: Renato Kress
Diretor do Instituto ATENA

Criador e treinador dos cursos
A Jornada do Herói
A Arte da Guerra Oriental
Estratégia em Ação
Liderança Corporativa e PNL

terça-feira, 3 de maio de 2011

Me dê um bom motivo...

Desde o início dos anos 1930 a motivação no trabalho e noções conexas como a performance e o envolvimento do funcionário com suas tarefas estão no topo das preocupações dos pesquisadores da área do comportamento organizacional.

O estudo da motivação tem como objeto analisar o que desencadeia e orienta os comportamentos, isto é, necessidades, tendências e valores assim como as reações que animam a vida afetiva de uma pessoa, tais como o estresse, as emoções e o sistema de defesa.

O que é motivação?
Antes de mais nada é preciso definir bem o termo com o qual vamos trabalhar. A motivação é o processo psicofisiológico resposnável pelo desencadeamento, pela manutenção e pela cessação de um comportamento, assim como pelo valor apetitivo (apetite, desejo, vontade, aproximação) ou aversivo (aversão, desinteresse, fuga, separação) conferido aos elementos do meio no qual se exerce esse comportamento.

Motivação é, enfim, o que nos aproxima ou nos afasta de pessoas, objetivos, metas, situações. Quase como uma força magnética que nos impele para perto ou longe de um determinado objetivo.
Algumas definições técnicas do conceito:

Motivação...
1. É um processo psicofisiológico que depende das atividades do sistema nervoso tanto quanto das atividades cognitivas (conhecimento, raciocínio).

2. É a variável responsável pelas flutuações do nível de ativação, do grau de atenção ou dispersão de uma pessoa. Responsável por nosso estado de vigília.

3. Corresponde às forças que são a causa de comportamentos orientados para um objetivo, forças que permitem manter esses comportamentos até que o objetivo visado seja atingido. Nesse sentido a motivação mantém a energia necessária para agir em prol de uma meta pré-estabelecida.
Motivação e valor
Atualmente dedica-se muito tempo e dinheiro para motivar funcionários a agir de forma mais eficaz em prol dos interesses de uma empresa. Como tempo e dinheiro são recursos estratégicos que, em qualquer lugar, são empregados de forma a atingir metas maiores do que o tempo e o dinheiro ali investidos, somos levados a perguntar: o que exatamente se deseja da motivação? O que a motivação confere aos seus “motivados”? Qual o valor atrás do qual o empresário, o administrador, o líder ou o gerente de equipe está?

Força, direção, persistência.
A motivação confere três características a uma conduta: força, direção e persistência. De fato as condutas, quaisquer que sejam, são orientadas para um objetivo ao qual a pessoa atribui certo valor. A busca da motivação na sociedade do trabalho atual está ligada a essa perda de referencial de valor agregado ao trabalho. A busca de sentimentos de familiaridade dentro do local de trabalho – a “família Petrobrás”, a “família Shell”, a “família Knorr” etc - demonstra um esforço pontual em recriar esse elo de familiaridade, de significação, perdido na automatização e no distanciamento das relações gerados pelas novas tecnologias de gerenciamento de trabalho e comunicação.

A empresa estratégica
A intensidade (força) e a persistência da ação denotam o valor que a pessoa atribui ao objetivo que persegue ou o interesse que o alvo visado com o comportamento tem, para a pessoa. Mais do que obter maior rendimento em um trabalho específico, as empresas querem descobrir o que move seus funcionários, qual o valor que possui significado e intensidade afetiva ou psíquica a ponto de modificar seus comportamentos. A empresa que souber identificar esses valores e trabalhar com eles, será a pioneira em qualquer ramo (para mais informações sobre competitividade e estratégia leia as matérias publicadas anteriormente no nosso blog sobre Liderança e Estratégia).

O prazer vicia
Na realidade os indivíduos tendem a repetir os comportamentos que lhes proporcionam prazer; este é o princípio do reforço. No cérebro do homem e dos mamíferos em geral existem estruturas que transmitem, com a estimulação, recompensa ou castigo através de neurotransmissores, essas estruturas são chamadas “centros de reforço”. A satisfação traz uma redução da tensão ligada à necessidade (ou ao desejo, à pulsão) que faz surgir o comportamento. A satisfação corresponde à conquista, parcial ou total, do objetivo perseguido. Quanto maior o sucesso advindo de uma atividade, maior o grau de satisfação proporcionado ao indivíduo.

PNL – Em Programação neurolingüística (PNL) temos o pressuposto de que “toda ação tem uma intenção positiva”, ou seja, qualquer atividade, qualquer ação tem – para o seu praticante! – uma intenção positiva. De alguma forma ele há de retirar algum prazer ou satisfação daquela ação. Veja mais no Dicionário ATENA de PNL.

O motivo entre o prazer e a dor
Para explicar o processo de motivação os especialistas usam frequentemente o exemplo do termostato, esse dispositivo que permite regular os fluxos de energia para manter uma temperatura constante. Por analogia a motivação seria um dispositivo que permite regular os fluxos de energia com o objetivo de manter o equilíbrio do organismo. As teorias de Lewin e Piaget se apóiam nessa concepção de equilíbrio.

Homeostasia, o termômetro interno
É de se esperar que ao regular os fluxos de energia entre os estados de equilíbrio e desequilíbrio, a motivação faça variar o nível de ativação do organismo; aliás, pode-se constatar esse estado efetivo na força e na persistência dos comportamentos de uma pessoa em uma situação dada. O nível de ativação está vinculado às exigências de uma dada situação e à disposição da pessoa ante essa situação. O nível de ativação permite compreender os fenômenos de esforço, fadiga e de performance dos funcionários e encontrar maneiras de mobilizar a energia desses últimos para a consecução dos objetivos de trabalho. Homeostasia é a tendência geral do organismo a estabelecer o equilíbrio e a restabelecê-lo toda vez que ele tiver sido rompido. Aprender a motivar-se e a motivar seus funcionários é aprender a “sintonizar” o termômetro interno com as demandas externas.

Festa ou foco?
Muitas empresas de treinamento e profissionais da área se esmeram em produzir festas e eventos socializantes para desenvolver a motivação de funcionários, principalmente depois das férias e antes de feriados como o ano novo. Estouram balões, quebram tábuas de madeira, desenham com pilot, giz de cera etc. É perfeitamente válido que ocorram tais “treinamentos” desde que a energia catalisada nessas oportunidades não se perca pela ausência de foco e pelo clima de “oba oba” generalizado. Se um funcionário mal orientado ou até mesmo com grau baixo de competência (por pouco tempo de casa, por exemplo) se motiva sem o devido foco, pode se animar em fazer errado por meses! Uma possibilidade viável para o bom uso dessa energia e motivação evocadas seria alocar essas formas de treinamento no início de uma jornada ou projeto, não no seu término ou ilhado em um final de semana ou fim de ano.

A motivação deve estar sempre alicerçada nos princípios que norteiam as metas, os valores, o desenvolvimento e as práticas daquela empresa específica. O pulo do gato é justamente elevar o moral do pessoal, sincronizar interesses e valores do funcionários com os da empresa, desenvolver a compreensão de trabalho fluídico e colaborativo (competição é ótima, pra fora!), trazer humor para o processo afim de gerar uma sensibilização de todos perante os demais e, principalmente, canalizar essa atmosfera para a consecução criativa, dinâmica e eficaz das tarefas a que a empresa se propõe.

Renato Kress,
Diretor do Instituto Atena

quarta-feira, 30 de março de 2011

Neurociência prática II: Estratégias de cognição e treinamento

Como pessoas com a mesma educação, mesma formação, mesmo meio social e mesma cultura podem discordar tão frontalmente em tantos assuntos? Seria fácil admitir que "somos todos diferentes" ou que "o ser humano é caótico", mas na verdade essas respostas superficiais não nos satisfazem nem nos ajudam quando queremos realmente compreender e respeitar o outro.

Neurocientistas têm chegado às mesmas conclusões que os autores mais consagrados da PNL no que tange a essa questão. Ao invés de observar apenas o comportamento final dos sujeitos, eles estão cada vez mais interessados nas vias, nos caminhos que levam e esse comportamento.

Processamento da informação
Estudos celulares levaram aos achados de que mesmo processos cognitivos complexos, como a atenção e a tomada de decisões, estão correlacionados com o padrão das descargas de células individuais em regiões específicas do cérebro. Isto mudou a maneira pela qual o comportamento é estudado tanto em animais experimentais quanto em seres humanos, de modo que o foco atualmente não é sobre como um estímulo provoca uma resposta, mas como se chega a uma resposta, ou seja, sobre o processamento da informação.

Estratégias cognitivas em Programação Neurolingüística
Esse mecanismo de processamento da informação até uma resolução, seja ela uma decisão, uma opinião, uma saída ou enfrentamento em um determinado contexto, é o que em programação neurolingüística se denomina "estratégia" ou "estratégia cognitiva". É o caminho sensorial interno que fazemos até chegarmos a uma conclusão sobre determinado assunto.

A programação neurolingüística parte do pressuposto de que pensamos usando nossos sentidos "para dentro", ou seja, pensamos ouvindo nossas palavras, sentindo nosso corpo e sensações e "vendo internamente" (criando imagens mentais, imaginando). A sequência utilizada para tomar decisões é pessoal, é uma característica pessoal apreendida por meio da repetição e constância ao longo da vida. Ela pode ser culturalmente orientada - a cultura ocidental contemporânea é muito mais visual que as culturas precedentes -, familiarmente influenciada - um maestro pedirá naturalmente a seu filho para "escutar" determinados sons e harmonias que são imperceptíveis aos ouvidos não treinados -, mas em essência ela é bem pessoal.

De que nos serve conhecer nossa estratégia cognitiva?
Adquirimos poder sobre aquilo que conhecemos. Ao conhecermos nossa estratégia cognitiva podemos ter  exercer nossa autonomia modificando-a afim de termos uma visão mais abrangente não só do mundo que nos cerca, mas das nossas decisões e das nossas leituras e percepções acerca das pessoas que convivem conosco. Conhecendo a topografia de nossas decisões, alerta acerca de cada ponto do que nos levou a decidir de uma ou de outra forma temos consciência de que sempre há outras opções possíveis e aí sim estaremos aptos a realmente tomar a melhor decisão possível dentro das circunstâncias dadas.



No curso Liderança Corporativa e PNL do Instituto ATENA treinamos a fundo tanto a percepção da própria estratégia cognitiva quanto a percepção da estratégia alheia.

Conhecer a estratégia cognitiva dos outros pode nos levar a minimizar possíveis conflitos, surpreender e até mesmo a fecharmos valiosos acordos. O mais importante, sempre, é conseguir compreender e respeitar, cada vez mais, a autonomia e a liberdade daqueles com quem convivemos.


Texto: Renato Kress
Diretor do Instituto ATENA

quarta-feira, 2 de março de 2011

Neurociência prática: Da imaginação à realização



"A imaginação é mais importante do que o conhecimento." - Albert Einstein

Essa conhecidíssima frase do físico mais famoso do século XX nos remete a compreensões muito mais profundas do que as que teríamos a princípio. O que poderia ser considerado um exagero de um gênio com personalidade forte e mente iridescente e inquieta, está se confirmando através das recentes descobeertas das neurociências: O cérebro trabalha os dados da imaginação da mesma forma que trabalha os dados da realidade. Como podemos usar esse conhecimento a nosso favor?

Imaginação, treinamento da realidade

O espaço real, bem como o imaginado ou o lembrado é representado nas áreas de associação parietais posteriores. Essas áreas também recebem entradas sinápticas a partir dos sistemas visual e auditivo e estão implicadas na integração das entradas sensoriais somáticas (tato) com essas outras modalidades sensoriais para dar origem a percepções e focalizar a atenção no espaço extrapessoal. - Jessel, Thomas M.


O que ocorre é que há uma fusão da sensação, da visão e da audição numa mesma área de processamento neuronal. Dessa forma, o que pensamos como real e o que pensamos como imaginação só se diferenciam, biologicamente, pela quantidade de dados e não necessariamente pela qualidade dos dados. Ou seja: Imaginar com muitos detalhes alguma sensação ou algum lugar específico, alguma meta, objetivo ou alguma frustração pode desencadear uma descarga dos neurotransmissores correspondentes àquele estímulo emocional.

Quando antevemos e nos pré-ocupamos com discussões que ainda não ocorreram, tendemos a nos exasperar, ficar com a boca seca, frio na espinha, irritabilidade, tensão. Quando rezamos ou quando deixamos nossa mente vagar por paisagens imaginárias leves e tranquilas ou quando antevemos o encontro com um grande amigo que não vemos por anos, nossos membros se relaxam, todo o nosso corpo corresponde hormonalmente àquela situação imaginária.

Imagine-se deitando vagarosamente sobre cacos de pó de vidro, primeiro as pernas e depois, lentamente, as costas. Nada agradável, não é? Confesso que fiquei com uma certa irritabilidade nas costas somente ao escrever a frase.

Agora imagine-se deitando sobre uma cama de pétalas de rosas, ou penas de pássaros. Primeiro as pernas e depois, lentamente, as costas. A sensação, física, é outra?

Submodalidades, dados da imaginação para a realização

A programação neurolingüística, intuindo essa descoberta da neurociência através da prática, desenvolveu o trabalho com as submodalidades.

O que são submodalidades? O Dicionário ATENA de PNL define submodalidades como: compostos específicos de uma experiência sensorial. Temos submodalidades visuais, auditivas e cinestésicas (mais freqüentes), bem como as olfativas e gustativas (menos freqüentes).

Submodalidades visuais: filme, slides ou foto, imagem panorâmica ou enquadrada, em duas ou três dimensões etc.
Submodalidades auditivas: volume, cadência, ritmo, inflexão da voz etc.
Submodalidades cinestésicas: temperatura, textura, umidade, pressão, localização etc.

Da imagem ao real

Ou seja, o trabalho com as submodalidades implica na criação e introjeção de "dados extras", de base sensorial, em nossas imagens de metas e objetivos ou em nossas vivências, para que possamos causar um efeito neural mais forte e duradouro. A "qualidade" da imaginação, determinada pela quantidade de dados precisos que colocarmos sobre ela, determinando cores, texturas, sabores, cheiros, sons, vai influenciar na liberação dos neurotransmissores que serão responsáveis pelo nosso estado de ânimo frente à tarefa dada e, principalmente, por nos motivar em busca da realização.

Portanto, decore sua meta e detalhe sua mente, até que ela possa vestir a realidade ao teu redor.

Renato Kress
Diretor do Instituto ATENA
www.institutoatena.com

Criador dos cursos
A Jornada do Herói
A Arte da Guerra Oriental
Liderança Corporativa e PNL
Estratégia em Ação

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Cartografia inteligente - PNL e Neurociências

"Tem sido dito que a beleza está nos olhos de quem vê. Como uma hipótese essa afirmação aponta diretamente para o problema central da cognição (...): Um mundo de experiências é produzido por quem as experimenta (...) Existe certamente um mundo real de árvores, de pessoas, de carros e até de livros, e este tem muito a ver com a nossa experiência destes objetos. No entanto, não temos acesso imediato ao mundo, nem a nenhuma de suas propriedades (...) tudo aquilo que sabemos acerca da realidade foi mediado não apenas pelos órgãos dos sentidos, mas por sistemas complexos que interpretam e reinterpretam as informações sensoriais (...)
O termo 'cognição' se refere a todos os processos pelos quais a entrada sensorial é transformada, reduzida, elaborada, armazenada, recuperada e utilizada."
 - Ulrich Nesser, 1967

O interessante dessa citação é que ela poderia ter sido escrita por um neoplatônio, tanto quanto por um atual discípulo de Aristóteles, por um neurocientista ou por um bom professor de programação neurolingüística. O fato de ela ser, na realidade, de um psicólogo alemão radicado nos Estados Unidos é menos importante para nós, agora, do que a percepção de que muitas disciplinas e correntes filosóficas entram em acordo, pelo menos atualmente, no que concerne ao básico da cognição humana: O mundo depende do sujeito que o vê.

Da idéia à ação
O que diferencia a programação neurolingüística (PNL) das demais disciplinas acima citadas é que, além de ter sido gerada pela interseção criadora entre várias disciplinas acadêmicas, entre elas a lingüística, a semântica, a neurologia, a programação digital e a psicologia, a pnl foi criada como uma ferramenta, como um instrumento cuja utilidade está na sua aplicação ao nosso mundo. Ela começa a agir onde as últimas descobertas dos neurocientistas, filósofos e pensadores contemporâneos param. É daí que ela salta para novas percepções, descobertas e aprendizagens.

Uma caixinha de lupas, óculos, binóculos...
A pnl potencializa percepções e leituras da realidade. Por exemplo: toda a grande citação com que iniciamos esse texto não é apenas suprimida numa das célebres frases da neurolingüística que nos diz que "O Mapa não é o Território", mas essa mesma frase, dentro do contexto da pnl, é um pressuposto básico, inicial, apreendido pelos alunos de neurolingüística para que eles possam perceber que sua representação da realidade nada mais é do que uma representação e, como tal, ela pode ser enriquecida com novas experiências, percepções e possibilidades. Dentro da pnl essa concepção é, única e tão somente, o princípio básico para que novas percepções sejam criadas, para que o aprendizado se torne natural, prazeroso e constante. Os que praticam essa ferramenta poderiam fazer dela uma verdadeira Ferrari tanto cognitiva quanto humanitária, se apenas se atinassem a  respeitar os mapas alheios e aprender com eles.

Cartografia íntima
Quando percebemos que nosso "mapa", nossa interpretação da realidade, não é a única, a verdadeira e absoluta nos abrimos para compreender a riqueza do mundo, desde a riqueza de outras culturas nos mais diversos continentes até à riqueza da experiência de nossos irmãos, filhos e amigos, que é muitíssimo diversa da nossa. Essa riqueza está aí, basta termos olhos para vê-la.

Trocando os fios
Quando temos uma formação em pnl nos predispomos a estudar neurociência cognitiva começamos a ter algumas percepções interessantíssimas. Por exemplo: a definição clássica de pnl é "O estudo da estrutura da experiência cognitiva" (Richard Bandler) e, segundo Eric R, Kandel, escritor do monumental Fundamentos da Neurociência e do Comportamento, "O principal objetivo da ciência neural cognitiva é estudar as representações internas dos eventos mentais".

Outra concepção importante da pnl é que se mudarmos nossa representação do mundo, mudaremos também nossa experiência do mundo e vice-versa, podemos encontrar a mesma concepção em uma das conclusões de Kandel "A representação interna do espaço pessoal é modificável pela experiência", afinal, ainda em Kandel, "O que distingue uma região do cérebro de outra e um cérebro de outro é o número de neurônios e a maneira pela qual eles estão interconectados". Ou seja: novas experiências geram novas percepções e ampliam nossa possibilidade de interpretar a realidade. É o princípio da criatividade tanto quanto o da aprendizagem. É nele e através dele que a neurolingüística opera.

O mundo como ilusão
Os diferentes modos de interação com o mundo - um objeto visto, uma face tocada, ou uma melodia ouvida - são processados em paralelo por diferentes sistemas sensoriais. Primeiro os receptores em cada sistema analisam e decompoem as informações do estímulo. Cada sistema sensorial, então, abstrai essas informações e as representa no cérebro por vias e regiões cerebrais específicas. De momento a momento esse fluxo constante de informações é editado em um contínuo aparentemente ininterrupto de percepções unificadas. Assim, a aparência de nossas percepções como imagens diretas e precisas do mundo é uma ilusão.

Neurolingüística, o mundo como criação
A neurociência já percebeu que apesar das conexões serem precisas em cada cérebro, não são exatamente as mesmas em todos os indivíduos, assim "as conexões entre as células podem ser alteradas pela atividade e pelo aprendizado" (Schwartz, 2002). Através da interação entre as descobertas de Frederick Bartlett, Edwin Tolman, George Miller, Noam Chomsky, Ulrick Neisser, Herbert Simon e outros, a neurociência está agora corroborando as descobertas da neurolingüística e vem diariamente endossando seus métodos com descobertas e conclusões similares ou idênticas às encontradas em bons livros da área de pnl. são duas disciplinas que podem e devem ser utilizadas em uníssono para construir um bom trenamento em neurolingüística.

Se compreendemos que "a percepção forma o comportamento e que a própria percepção é um processo construtivo que depende não apenas das informações inerentes ao estímulo mas, também, da estrutura mental daquele que percebe" (Kandel, 2002) podemos começar a instrumentalizar essas percepções e essas experiências para efetivamente criar algo inteiramente novo, criativo e dinâmico. Esse é, em suma, não apenas o modus operandi da criação dos treinamentos únicos e patenteados do Instituto ATENA, mas o que incentivamos em todos os nossos treinandos, parceiros e clientes: Crie! Inove! Seja! Recrie-se em sua melhor concepção! Veja-se através do microscópio do comportamento cotidiano ou da luneta das suas crenças e valores, integre-se e recrie-se, sempre!

Autor: Renato Kress
Diretor do Instituto ATENA